John Green e As Primeiras Páginas

Antes de começar a explicação, queria deixar claro que a escolha dos livros do John em específico não significa que ele seja um dos melhores ou o melhor exemplo de como começar um livro, mas reli “Quem É Você, Alasca?” recentemente e, além de gostar muito deste livro, gosto de utilizar livros infanto-juvenis para falar de escrita, pois normalmente se tratam de escritas mais “leves” e/ou fluidas.


Siglas Utilizadas
ACEDE: A Culpa É Das Estrelas
CDP: Cidades De Papel
JG: John Green
QEVA?: Quem É Você, Alasca?

Começos são sempre muito importantes, quase tanto quanto os finais. Sabe aquela famosa frase de que “a primeira impressão é a que fica”? Isso é totalmente válido quando falamos do mundo dos livros! As primeiras linhas, parágrafos ou páginas do seu livro são o que vão fazer o seu leitor decidir se irá continuar a leitura ou não.

John Green escreve livros, em sua maioria, para o público infanto-juvenil que, precisamos admitir, é um público um pouco mais complexo se tratando de retenção da atenção, principalmente por estarem quase o tempo todo expostos a muitos estímulos.

Ainda assim, JG consegue capturar bem a atenção de seu público desde o primeiro momento (talvez não do “alecrim dourado” anti-YA), e isso torna seus livros um bom material de estudo para entendermos boas lições sobre como começar o seu livro.

1- Começo Impactante

Os 3 livros que peguei para analisar (“Quem É Você, Alasca?”, “A Culpa É Das Estrelas” e “Cidades de Papel”) começam de uma forma tão interessante (quase sempre despertando uma certa curiosidade) que servem como um gatilho/estímulo para capturar a atenção e incentivá-lo a ler pelo menos mais alguns parágrafos.

Exemplos:

“Na minha opinião, todo mundo tem seu milagre.”
 –
Cidades De Papel

“Uma semana antes de eu deixar minha família, a Flórida e o resto da minha vida sem graça e ir para um colégio interno no Alabama, minha mãe insistiu em me fazer uma festa de despedida.”
– Quem É Você, Alasca?

“Faltando pouco para eu completar meu décimo sétimo ano de vida, minha mãe resolveu que eu estava deprimida (…)”
– A Culpa É Das Estrelas

2- Apresentação da Trama/Personagens

Fonte: Reprodução

Outro ponto importante nos primeiros parágrafos de Green é que, normalmente, ele apresenta duas coisas: aspectos que demonstrem o caráter/a personalidade do(s) protagonista(s) e/ou aspectos ligados ao evento principal da trama (ou ainda do incidente incitante, como no caso de “QEVA?”).

Exemplos:

“Eu poderia ter presenciado uma chuva de sapos. Poderia ter pisado em Marte. Poderia ter sido engolido por uma baleia. (…) Mas meu milagre foi diferente. Meu milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados em toda a Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman.”

– Cidades De Papel (apresentação do incidente incitante/evento central)

“Apesar de ter sido mais ou menos forçado a convidar todos os meus “amigos da escola” — ou seja, o grupo de esquisitões do teatro e nerds de literatura com quem eu me sentava no refeitório cavernoso da minha escola pública por pura necessidade social — , eu sabia que eles não iriam.”
– Quem É Você, Alasca? (apresentação de traços do personagem)

“(…) mamãe achava que eu precisava de tratamento, então me levou ao meu médico comum, o Jim, que concordou que eu, de fato, estava nadando numa depressão paralisante e totalmente clínica e, além disso, eu teria que frequentar um Grupo de Apoio uma vez por semana.”
– A Culpa É Das Estrelas (apresentação de traços do personagem e, também, do incidente incitante da história)

3- Contextualização da Atmosfera da Narrativa

Fonte: Letterboxd

Nos três livros analisados, o autor deixa bem contextualizada a atmosfera da narrativa. Quando falamos de atmosfera da narrativa, nos referimos tanto ao tom e clima, quanto a ambientação de uma história. O tom ou clima da narrativa se refere ao tipo de emoção que você deseja provocar no leitor. Já a ambientação é o contexto e o cenário em que a história se passa.

Por exemplo, em “ACEDE” conseguimos entender que o livro terá uma grande carga dramática, não apenas pelo câncer, mas também pela depressão, e assim nos “preparamos” para a leitura. Também conseguimos compreender um pouco da relação de Hazel com seus pais, conhecer um pouco de sua rotina, além de sermos introduzidos a outros personagens (como Augustus e Isaac) e a forma de Hazel se relacionar com estas e outras personagens e situações.

Já em “QEVA?” conseguimos entender a vida de Miles em sua antiga cidade e também a motivação desta mudança que irá mover a trama, sendo ela a “saída em busca de um Grande Talvez”.

No fim, o que importa é que não existem regras sobre como começar um livro, mas é importante lembrar que algumas diretrizes foram estudadas e analisadas por anos, e podem com certeza te ajudar a apresentar com êxito a sua história e conseguir o principal: fazer seus leitores continuarem para o capítulo dois, três, e assim por diante.

Patrick Gois

Formado em Marketing, Roteiro e Pós-Graduando em Escrita Criativa, anseio por contar histórias: seja através de um livro, um roteiro ou de uma campanha publicitária. instagram twitter medium email

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